Memorando

                   MEMORANDO PÓSTUMO - MEU QUERIDO PAI

"Se vos engana meu sorriso, decerto se surpreenderás com minhas lágrimas disfarces, pois é n'alegria que se esconde minha fúnebre melancolia." (Nyll Xavier Mergello) Um dia após ficar órfão de pai (falecido ontem, 08-10-2020)

Foi-se precocemente um guerreiro da vida, aos 89 anos de idade. Uma existência curta demais para alguém que tinha a dureza de um bravo e a resistência inerente apenas aos longevos. Mas as perdas da vida aliadas a fatores diversos fazem sucumbir à melancolia até mesmo os grandes homens, aqueles com as qualidades propícias para a centenariedade. E então vem o desejo de adormecer junto com os seus amados que já repousam serenos na eternidade. Esses fatores servem para abreviar o fim que se mostrava distante. No fundo, sem minha mãe - sua heroína -, a vida já se mostrava a muito sem luz. Mesmo já estando ao lado de outra, tudo que ele desejava era juntar-se ao amor de sua juventude. Mas a vida lhe exigiu que continuasse por mais de duas décadas ainda. Até que a dor da saudade o consumisse por inteiro. Saudades aliadas a culpa e certo nível de remorso. E assim, 24 anos após a prematuríssima partida de minha adorada mãe (morreu com apenas 52 anos de idade), finalmente ele sucumbiu ao peso da vida, que já se tornara um fardo. "Oh, minha véia, me leve pra junto de você", se lamentou certa vez num murmúrio, segundo comentou uma testemunha da família. Assim foi com o meu pai, o meu guerreiro, o meu exemplo de vida. Descanse em paz, meu velho.

  • Nome: José Sebastião da Silva Mergello
  • Nascimento: 27 de maio de 1931
  • Falecimento: 08 de outubro de 2020 (ontem)
  • Local | Cidade: Tacaratu, Pernambuco, Brasil

   MEMORANDO PÓSTUMO - O AVÔ MATERNO DOS MEUS FILHOS

No texto logo acima tivemos uma homenagem póstuma ao homem que mais admirei em toda minha vida. Um homem desprovido de cultura, mas talentoso com as mãos na arte da marcenaria e um batalhador nato, desses que merecem conquistar o mundo. Exímio comerciante, dono de uma matemática natural que nos impressiona e grande habilidade para tomar decisões acertadas, líder nato. Enfim, alguém de que se foi e deixou marcas positivas e saudades em muita gente que não apenas o admirava, mas o amava. Se foi aos 89 de vida, mas o que parece muito foi tão pouco. Asseguro que se foi precocemente, pois era daqueles que ao partir no que parece ser o tempo certo, foi na verdade cedo demais.

Isso foi em 08-10-2020. Mas agora permitam-me falar de alguém que partiu hoje, aos 77 anos de idade. Pois é. Ainda não fui informado oficialmente, mas pelo discreto chororô que ouvi hoje de manhã, é fato que essa pessoa já não respira mais. Certamente o telefone voltou a tocar, só que desta vez para informar que está tudo acabado. Finalmente. Família reunida a semanas para tentar aliviar o sofrimento de um homem em estado paliativo. E quando digo sofrimento, entenda-se o SOFRIMENTO! Ainda ontem, quando voltou a ficar mais mal do que todo o mal pelo qual já vinha padecendo, a família foi perguntada se desejam que fosse feito um ressuscitamento quando a crise de agonia voltasse. A atual filha caçula (atual porque a caçula de fato faleceu também de câncer no último mês de dezembro) disse: "Por mim não." O restante da família estava de acordo. De madrugada a mãe dos meus filhos recebeu um telefonema dizendo que o estado dele piorou. Já era certo que desta vez era o fim. E assim foi. Talvez alguém se pergunte por que eu não fui informado e por que estou agindo de maneira tão fria. Bem, vamos adiante, vocês vão entender as minhas razões.

Estamos falando aqui do avô dos meus filhos. Estamos falando aqui do meu maior inimigo. Mas vejam bem, ele era meu inimigo, eu da minha parte nunca tive nenhum tipo de relacionamento com ele, pois esse homem era do tipo que eu prefiro manter distância. Ser humano frio, cruel e tóxico. Todas as filhas se casaram cedo demais. Por que será? Uns cinco anos atrás, numa discussão feroz em família, sua atual filha caçula gritou histérica cara a cara com ele: "Você foi o monstro de nossas vidas!", obviamente se referindo a ela e às irmãs. Minha filha mais velha, atualmente com 22 anos, disse dias atrás: "Ele é meu avô e eu o amo. Mas ele não foi um bom avô. Lembro do dia que ele nos expulsou de sua casa e nos mandou embora para (ela e o irmão). Nós éramos apenas crianças." Pois é, esse cara, por alguma razão imbecil, e obviamente descontando nos meus dois filhos seu ódio de mim, expulsou meu filho e minha filha, que tinham respectivamente 7 e 5 anos de idade. Eles nunca andavam sozinhos longas distâncias. O cara os mandou embora, jogando-os na rua para irem para nossa casa em outro bairro. As crianças cruzaram ruas e avenidas, inseguras e com medo até chegarem em casa. Aquilo me deixou indignado e muito revoltado.

Bom, devo esclarecer que desde o início, eu nunca quis frequentar o ambiente familiar da mãe dos meus filhos. Nunca quis, nunca fiz questão e nunca participei, pois desde a primeira vez que vi aquele homem, meu sangue não bateu com o dele. Era uma pessoa insuportável, arrogante e grosseiro. Meu melhor amigo à época, de cara não gostou dele e seu jeito estúpido de falar, como se fosse o dono do mundo.

Houve um tempo que eu cheguei a recear pela minha segurança, chegando mesmo a pensar que aquele homem poderia chegar ao disparate de mandar alguém me fazer mal. Várias vezes tentou me humilhar diante de outras pessoas. E por trás deveria falar barbaridades. De todas as formas tentou me difamar. Afinal eu não apenas me recusava a fazer parte de seu círculo familiar ou frequentar sua casa, como especialmente não compunha o círculo de genros puxa-sacos e baba-ovos que o cercava e bajulava. Eu não apenas o evitava e matinha distância, como também reduzia ao máximo o contato de meus filhos com aquele ninho de serpentes. Não queria que meus filhos tivessem qualquer influência deles na educação. Sempre coloquei na cabeça deles o senso de igualdade, coletividade, humildade e humanidade. E era preciso fazer isso, pois mesmo sendo de maneira controlada, as crianças precisavam visitar a família materna. Isso eu não poderia lhes negar. Família é família, não importa seu status ou seu valor. Família não se escolhe, você simplesmente faz parte dela, não é algo voluntário.

Uma das influências mais horríveis desse homem, e sobre a qual eu estava sempre conversando com as crianças, explicando o quanto aquilo era feio, nojento e perigoso, era o racismo. Sim, ele era extremamente racista. Mas como a vida não perdoa, a filha próxima à caçula (a atual caçula) se casou precocemente com um cara negro. Mais velho e negro. evangélico como eles. Não é preciso dizer que ele nunca aceitou isso, embora não falasse abertamente. Porém, as vítimas seriam outras: seus netos! Os filhos de sua filha com o genro negro. Foram tantas as crueldades, em palavras e ações, que traumatizaram profundamente o neto mais velho, que se tornou um jovem extremamente confuso. O avô chamava habitualmente de neguinho, especialmente quando os pais não estavam por perto. Dias atrás (vejam bem, eu disse dias atrás, ou seja, já com os pés a beira da cova!) ele se lamentou que todos os netos são bonitos, menos um. e quem seria esse pobre um? E quem poderia ser, senão o pobre neto negro?

Acho que esse fato ocorreu em 2008 ou 2007. Bom, já era noite. O velho foi à casa que eu morava com a filha dele e os nossos filhos, numa casa da Vila São Carlos. Fizeram um barraco. Juntos com ele estavam sua filha (na época a segunda mais nova) e o esposo dela, ou seja, o genro que ele menos aprova por ser negro e que coincidentemente é seu seu maior puxa-saco. O genro dele teve o disparate de me mandar embora de minha própria casa. Um absurdo que seria caso de polícia.

O cara fazia de tudo para aparecer para o sogro marrento. Eu tinha consciência de que se eu fosse para cima dele, ele seria desmoronado na porrada e não chegaria ao segundo round. Mas sempre detestei escândalo, até porque naquele caso sabia que ele estava tentando se mostrar o cara para o seu sogro. Fiz pouco caso e desbaratinei a ideia de um confronto. Mas fiquei tão chateado que peguei uma bolsa e saí de casa pronto para voltar para São Paulo. O que mais me magoou foi que a filha dele não teve nenhuma reação, já que em se tratando de seu pai, ela poderia ter falado alguma coisa. Mas existe uma cumplicidade tal entre todos eles que é difícil explicar. Por fim ela foi atrás de mim com as crianças e eu acabei retornando. Aliás essa era uma arma poderosa que ela tinha em mãos e que foi usada várias vezes para me impedir de ir embora.

Depois daquela noite, não lembro se foi no dia seguinte ou dias depois ainda naquela semana. O fato é que eu estava sozinho em casa. Caía uma chuva torrencial. De repente bateram forte no portão. Fui atender e dei de cara com minha cunhada, a esposa do puxa-saco. Ela estava ensopada. E claro, sabia que eu estava sozinho. Rapidamente abri o portão para ela e corremos para a cobertura que tem naquela casa, em toda a parte da frente, se estendendo até a lavanderia e a garagem. Acho que essa é a definição, não sei o nome daquilo. Bom, ajudei ela a sentar na parte de azulejo que se estende do tanque de lavar roupas até o espacinho fechado onde fica o botijão. Trouxe uma toalha e a ajudei a enxugar-se a fim de evitar que ela pegasse um resfriado. Ela sempre teve uma saúde bastante frágil.

Ficamos conversando e esperando a chuva passar. Não sei se a intenção dela em ir até lá foi um modo de desculpar-se, mas é a possibilidade mais provável. Lá pras tantas ela me disse, melancólica: "você faz bem em não querer se aproximar dessa gente". Essa gente era uma referência à sua família. Ela, que uns nove anos mais tarde jogaria na cara de seu pai: " Você foi o monstro de nossas vida!" Sim, ela sabia do que estava falando. Ela era testemunha das maldades que rolavam dentro do seio daquela família a meu respeito.

Bom, o fato é que eu nunca cedi. E não era uma questão de orgulho, o motivo de eu rejeitar qualquer aproximação com aquela gente é que eles não eram boas influências, além de serem escandalosos e falsos ao extremo. Eu não queria isso para mim, muito menos que isso interferisse no caráter de meus filhos, ainda em formação.

São tantas coisas para falar. Vários livros não caberiam. Mas vou falar sobre um em especial, isso porque esse acontecimento mostra o quanto eles eram cúmplices. Certa noite, a mãe dos meus filhos foi dar banho no meu filho, então com sete anos de idade. Geralmente eu dava banho neles ou apenas ajudava na parte de

xampu, sabonete, coisas assim. Eles já conseguiam tomar um banho razoavelmente bem. Bom, ela estava bastante alterada. Puxou ele para dar banho e entrou agitada no banheiro, como uma louca. De repente ouvi o grito. Corri para o banheiro e lá estava meu filho nos braços dela. O sangue jorrava da boquinha dele. Dói só de lembrar.

Ela estava apavorada, chorando histericamente e sem saber o que fazer. Ele escorregou por conta da agressividade dela. Bateu a boquinha no vaso sanitário, que eu sempre exigi que permanecesse fechado. O maxilar superior dele estava simplesmente meio que solto. Estava quebrado. Os olhinhos de terror dele chorando a me olhar.

Eu o peguei rapidamente. Ela desnorteada ligou para o pai, que rapidamente chegou em seu carro. Levei meu filho pro carro e corremos para o hospital. Ele, eu e meu filho. Ela ficou lá, chorando em choque. No carro, a primeira preocupação do pai dela, enquanto nos dirigíamos para o pronto socorro, não foi com relação à

dramática situação do neto, mas da filha. "Você não vai dizer o que aconteceu, não, né? Pode dar polícia!" Eu fiquei pasmo com aquelas palavras. Ele não estava nem aí pro meu filho banhado em sangue e perdendo muito mais sangue pela boca, enquanto eu estava morrendo de

medo que ele sufocasse com o sangue. Minha resposta foi: "Claro que não". Nunca vou esquecer enquanto o médico arrumava o maxilar do meu filho e depois costurava. Os olhinhos dele para mim. "Pai, eu vou ficar bem, né, pai?", enquanto eu o segurava e chorava pela sua dor. A primeira grande dor de sua vida. Infligida pela própria mãe, involuntariamente ou não.

Em outro caso, ainda em São Paulo, certa vez ala chegou até mim com o meu filho nos braços. Ele estava totalmente molinho nos braços dela, como morto. Em desespero eu perguntei o que havia acontecido. Ela desesperada me disse que só tinha dado um de seus comprimidos para que ele dormisse. Estamos aqui falando de RIVOTRIL. E meu filho era apenas um bebê. Na hora minha reação foi: "Meu Deus, o que você fez? Você matou meu filho!"

Levado para o Hospital Santa Marcelina do Itaim Paulista, os médicos resolveram o problema e tudo ficou bem. Mas desde então eu perdi a confiança nela totalmente. Eu sempre achava que meus filhos estariam em perigo ao seu lado. Oh, my God, são tantas coisas no silêncio dos segredos.

Um caso mais recente ocorreu em 2020, após o escândalo nacional de 2019, patrocinado por suas duas filhas, a advogada e a psicopedagoga, carentes de audiência e reconhecimento público, e que não teriam jamais um bode expiatório melhor que eu. O caso viralizou e o escândalo figura entre os maiores do país, principalmente por conta de um ingrediente acrescentado: o programa sensacionalista Cidade Alerta! Foi um show de calúnias e difamação que visava me destruir de uma vez, especialmente porque eu não dispunha de recursos para contratar um bom advogado. Me trucidaram, mas novamente eu sobrevivi. Elas riram muito, pois imaginavam que seria o meu fim sem chance de escapatória. Mas o tiro saiu pela culatras e se elas riram a valer, agora vertem lágrimas em abundância. Só para confirmar o ditado "quem ri por último ri melhor". Claro que não estou rindo por conta das tragédias fúnebres deles. jamais. É só para mostrar que o ditado faz todo sentido.

Pois bem, naquela ocasião ele veio à minha casa, queria falar comigo (em 2020 sua situação já não era boa, o câncer avançava sem dó nem piedade). Só eu e ele na sala. Ele me disse: "você sabe que eu nunca gostei de você". E eu respondi: "E eu da minha parte nunca tive nada contra o senhor". E conversamos sobre o assunto que ele queria abordar, que envolvia minha filha caçula. Não vou especificar. Ele quis saber se eu disse aquilo à imprensa. E lhe respondi que na verdade foi a neta dele, não eu. Sugeri que ele a chamasse e perguntasse a ela. Ele visivelmente temeroso ficou calado, sem me olhar nos olhos. Acusações séria aquelas, meu amigo. Mas que a pedido de minha filha, preferi abafar. Fora aquelas acusações, havia as agressões contínuas sofridas por ela desde pequena. Segundo ela, ele a espancava com ou sem motivo, com cinto ou corda ou tábua ou que tivesse à mão ou ao seu alcance.

Vale explicar que minha filha caçula foi criada por eles até os onze anos de idade. Não vou explicar aqui as razões, a fim de evitar julgamentos idiotas, pois sempre tem alguém querendo apontar o dedo e escolher mocinhos e vilões, inocentes e culpados. Todo mundo teve culpa, todo mundo errou, ninguém é inocente. Afinal, lugar de criança é com seus pais e não com os avós. Ainda mais quando se tem um avô que odeia mortalmente o pai de sua neta, cuja neta é a própria cópia do pai. O que se esperar disso? É preciso ser gênio para entender que esse cara vai ficar um pouco confuso, entre amor e ódio? É preciso ser gênio para entender que um tapa na criança será como um tapa no seu pai?

Não vou me estender mais. Nesse momento a família está reunida lá no QG deles, certamente há choro e lamentos. Minha filha mais nova está lá também. E eu posso apostar 1000 contra 1 como ela não está chorando. Deve estar reflexiva, triste talvez. Mas não chorando. Certamente minha filha mais velha vai vir hoje da capital. Opa, telefone tocando... Atendi. A imagem de perfil está como LUTO. Enfim é isso mesmo, o homem partiu. A ligação era sobre o que acabei de falar. A filha dele, ou seja, a mãe dos meus filhos, queria que eu fizesse uma transferência para a passagem da minha filha que precisa vir de São Paulo por conta obviamente da morte de seu avô. Família reunida para mais um velório em menos de três meses. Sendo que no primeiro, tratava-se de uma menina boa e sofrida. Também vítima do câncer que parece ser um maldito mal de família.

Mas voltando ao assunto de minha filha, ela viu muitas maldade e tentativas de me atingir e me derrubar por parte deles. Desde pequena. E ela chegou a pensar que eu fosse um monstro. Porque era isso que eles diziam para ela. Que eu a desprezara e rejeitara quando pequena, que a odiava e não queria saber dela. A verdade de fato nunca lhe foi dita, ou seja, que a mãe dela teve trauma pós-parto e que a vida do bebê ficou em perigo, e que por isso ela precisou ficar uns tempos com os avós. E que por decisão da própria mãe, esse tempo foi se estendendo até que laços entre pai e filha foram se esfriando, na medida que os avós os afastavam mais e mais. Foi somente quando ela estava com onze anos que voltamos a nos aproximar novamente. Gradualmente fomos nos achegando um ao outro, fazendo caminhadas noturnas cada vez mais frequentes. Até a noite em que numa de nossas caminhadas pela rodovia Adhemar de Barros, ela segurou firme minha mão esquerda. Naquele momento eu entendi que havia reconquistado a confiança e o amor de minha família. Meus olhos se encheram de lágrimas e me veio o pensamento inevitável: "Meu Deus, eu conquistei o amor de minha filha!"

Mas até aí foram muitas e muitas noites de caminhadas, conversas e conflitos, até finalmente nos entendermos. E muitas verdades vieram á tona, muitas confissões e muitas denúncias. Só então entendi plenamente o quanto havia sido caluniado. Ela me contou tanta coisa. Sobre o que ela pensava segundo tudo que ouvia da cruel família materna, especialmente do avô. O quanto tinha sido maltratada, o quanto havia apanhado, muitas vezes sem qualquer razão ou motivo. E eu me senti mal, inútil, um calhorda. Pois minha filha apanhava de um homem que parecia sentir prazer em bater nela, como se com aquilo aliviasse a vontade de bater em seu pai. Mas enfim, o mal se acabou. Minha filha e eu hoje somos unha e carne. E desde que nos reaproximamos, posso dizer que conheci o paraíso por um lado. Mas por outro conheci o próprio inferno, pois o ódio e as perseguições deles se intensificaram, talvez por achar que ela pertence a eles. Mas não é bem assim, pois nesse caso o DNA falou mais alto. Afinal, como explicar que minha filha passou tanto tempo no meio daquela gente má e mesmo assim se tornou uma jovem de coração bom? Como explicar que ela não absorveu as qualidades racistas e nojentas dessa gente hipócrita?

Bom, recentemente conheci o inferno, mas o inferno não me tragou. Eles tentaram acabar comigo, mas não deu certo. Sujaram meu nome, mas isso é algo que com o tempo vou conseguir recuperar. A tv mostrou o ódio por meio da calúnia e da infâmia. Mentiras que quase destruíram a mim e a meus filhos. Para eles, não interessava se meus filhos caíssem comigo, o que interessava era que eu fosse engolido pelo abismo de suas calúnias. Mas não funcionou. Eu estou vivo e bem. Minhas filhas ficaram com sequelas, mas vão superar. Entre eles, porém, chegou um furacão consumindo a tudo e a todos. Pelo menos um derrame e alguns ataques cardíacos que não chegaram a ser fatais, mas deixaram sequelas. E a morte começou a entrar na família. Infelizmente gente boa se vai cedo demais, porém tem gente que embora cedo, se foi tarde demais.

Quanto ao avô dos meus filhos, sofreu com o câncer que enfim o tragou, não sem antes consumi-lo por inteiro. Não o matou logo. Enquanto nos noticiários ouvia-se relatos e mais relatos de famosos que tombavam sob o poder maléfico dessa doença diabólica, esse homem se superava, numa luta pela sobrevivência. Cheguei mesmo a admirar sua persistência. Foram viagens e mais viagens ao Hospital de Câncer de Barretos. Cirurgias e mais cirurgias, o que só aumentava o sofrimento do indivíduo. Não era uma questão de nova chance ou alívio, era a vida cobrando seu preço por tudo de ruim que ela já fizera. Gente assim não pode partir sem sentir dor, é a única forma de pensar em tudo que já fez. É a chance se redimir, de pedir perdão e de se perdoar. É a chance de refletir a cada dor. e as dores são intermináveis, o sofrimento é atroz.

É assim que são as coisas. Se houvesse um inferno de fogo, mesmo a pessoa mais cruel do mundo não seria merecedora desse lugar. Não me parece justo que uma alma sofra eternamente por alguns anos de maldade quando em vida. A mitologia do inferno é realmente uma grande crueldade, coisa de mentes fanáticas obcecadas pelo tormento. Mas um pouco de sofrimento em vida é útil, serve para expurgar as delinquências da mente perversa quando em face da morte. Embora certas pessoas, mesmo diante da morte, não se arrependem e ainda desejam levar junto pra sepultura seus inimigos ou desafetos.

Bom, para finalizar, vou mencionar algo que eu profetizei hámuitos anos, entre 10 e 15 anos atrás. Amargurado por estar distante de minha família e sendo hostilizado pelo avô dos meus filhos, que sempre dava um jeitinho de tentar me derrubar, como se não desejasse que eu tivesse êxito na vida (apesar de que isso é fato), eu desabafei com sua filha, a mãe dos meus filhos. Eu disse para ela que até onde eu sabia, todas as pessoas que de alguma forma haviam tentado me fazer mal, se deram mal. Eu nunca entendi o porque disso, não era que eu fosse especial, mas as coisas corriam sempre assim, como uma espécie de regra justa da vida. Desde minha vila em São Paulo, onde eu era um jovem líder comunitário e por conta de minhas ideias, ganhara inimigos mortais. Cheguei a ter a cabeça a prêmio por que bandidos não gostavam de minhas atitudes justas e ideia de segurança. O fato é que mesmo com o destino supostamente traçado, todos eles se foram ou ficaram inválidos. Eu continuei firme e forte. Quem me odiava era porque certamente estava motivado por ciúmes ou inveja, ou senão estava do lado oposto da lei.

Bom, eu então disse para a filha do avô dos meus filhos, ou seja, a mãe deles. Seu pai vai pagar muito caro por tudo que está fazendo comigo. Eu não sei como vai ser isso, só sei que ele vai pagar. Não é que eu queira isso, mas é algo da vida, entende? A própria vida se encarrega de fazer isso e não há nada que possamos fazer para impedir. É a justiça da vida. Assim como foi com muitos outros, vai ser com seu pai. E ele vai pagar muito caro, vai sofrer muito.

As palavras não foram exatamente essas, mas foi mais ou menos assim. E eu voltei a repetir isso outras vezes, queria que ela se lembrasse de que eu falara sobre o que viria no futuro.

Dito dessa forma soa meio sobrenatural, não é verdade? Mas na verdade não há nada de sobrenatural nisso. Reconheço que há certa dose de sensibilidade além do normal, algo que a maioria das pessoas não possui. Mas eu possuo essa qualidade perceptiva das coisas, é como um investigador que deduz que certas pistam conduzem ao criminoso. Eu diria que a palavra é essa: dedução. Uma dedução mais apurada, sei lá. Só que uma dedução com foco no que há de vir, algo como uma premonição. Mas insisto na ideia de que não há nada de sobrenatural, apenas uma percepção aguçadíssima das coisas.

Mas o fato é que anos depois o pai da mãe dos meus filhos foi diagnosticado com câncer. Um câncer agressivo. A partir dali, sua vida se resumiu a tratar a doença. Seu corpo, segundo dizem, foi retalhado por uma infinidade de cirurgias. Mas ele durou, porque era preciso que durasse até que se completasse o ciclo de seu sofrimento. Não é coisa de Deus, não é destino. eu não sei explicar, só sei que a vida faz isso em casos muito específicos. Pois nem todos vão passar por situações de sofrimento antes de morrer. Mas em certos casos isso é meio que uma regra. E essa regra é infalível.

Hoje é 28 de fevereiro de 2023, data em que se fechou o ciclo de vida do sr. Amaro Monteiro da Silva, um dos seres humanos mais desprezíveis e que tive o imenso desprazer de ter como avô dos meus lindos e adorados filhos. Hoje termina sua trajetória de malvadezas e de preconceitos. Seus pecados morreram junto com ele. Não o estou julgando, apenas falando verdades das quais tenho ciência. Quanto aos seus pecados ocultos, se é que existiram, morreram junto com ele e serão enterrados juntamente com ele. Agora é entre ele e seu Criador. Tenho o prazer de dizer que nunca tive qualquer tipo de relacionamento pessoal ou de parentesco com ele. Nunca frequentei sua casa e nunca fiz parte dos genros que viviam puxando seu saco e babando sei ovo. Aprendi de meus pais desde cedo o seguinte: puxa-saco não merece confiança, pois junto com o puxa-saco se esconde a falsidade e o interesse egoísta. Pessoas que se humilham para outras não são dignas de respeito e gente que se sente melhor que seus semelhantes não são companhia de gente de bem. Me orgulho de ter educado meus filhos da melhor maneira e com pouco contato com essa família preconceituosa, pelo que se diferenciam dessa gente perversa, os quais entre hipocrisia, cinismo e bajulação, devoram-se uns aos outros quais serpentes venenosas. A guerra pela herança ainda não teve início, pois a matriarca família, ou seja, a mãe da mãe dos meus filhos e avó dos mesmos, ainda continua viva e forte. E tenho e impressão de que ela viverá o bastante para enterrar muita gente ainda. Essa é uma pessoa boa, embora tenha sido corrompida pelos muitos anos ao lado de um racista. Mas para ela ainda existe cura, o tempo se encarregará de purificar sua alma. Pelo que ouço dela, da parte dos meus filhos e de sua filha, é uma pessoas boa.

Bom, nem é preciso dizer que a morte não será oficialmente relatada a mim, pois como todos sabem, eu nunca fiz parte dessa família. É um assunto que não me diz respeito. Eu não vou chorar o morto, não vou velar e nem estarei presente no cemitério. Até porque embora eu nunca tenha feito nenhum mal para essa gente, eles herdaram de seu líder o ódio por mim. Um ódio que ele levou consigo para a cova. Enfim, não serei convidado para essa "festa" fúnebre.

E agora, antes de terminar de fato, vou responder algo que está intrigando todos vocês. Querem saber por que eu nunca me refiro à mãe dos meus filhos como minha esposa ou minha mulher, enfim. Bom, é porque de fato eu não a considero isso, pois toda a nossa relação foi uma farsa desde o início. Ela manipulou as coisas para chegassem a esse ponto. Nunca usei aliança e nunca aceitei o casamento, o qual foi-me imposto sob chantagens e ameaças que não vou abordar aqui. Como planejo escrever um livro sobre o assunto, será lá que todos os podres emergirão do limbo de minha vida sobrevivencial.

Eu sou Nyll Mergello

28 de fevereiro de 2023, 13:34 PM | HB

Deitei na cama e fiquei vendo os últimos acontecimentos sobre a guerra da Ucrânia. Acabei adormecendo e comecei a sonhar. No sonho uma pessoa narrava os acontecimentos da guerra diretamente para mim. Claro que meu subconsciente ouvia as informações do celular e convertia em imagens reais para mim. Lá pras tantas ouvi uma voz na cozinha, mas pensei que fosse só imaginação. Mas pouco depois minha filha caçula chegou na porta e me cumprimentou: "Oi, appa", voltando pelo corredor. Provavelmente foi tomar banho e trocar de roupa. Afinal estava na casa dos avós. Pouco depois veio e deitou ao meu lado, em silêncio. Abraçou uma tonelada de travesseiros e ficou lá, quieta. Voltei a adormecer, mas não demorou e acordei com alguém adentrando o quarto. Era minha filha número um, que já chegara de São Paulo e eu nem sabia. Em seguida entrou a mãe. Fiquei quieto. Em meu íntimo, algo não me permitia prestar-lhe condolências pela morte de seu pai. E eu não sou do tipo que vou contra meus princípios. Sinto aversão a hipocrisia. No fundo, imaginei que ela não fosse me cobrar isso, pois sabia da relação ruim entre o pai e eu. Não por minha causa, mas por ele nutrir sentimentos ruins contra mim, para não dizer ódio. Ódio por quem nunca lhe fez mal. Na verdade, a gente podia contar nos dedos as vezes que estivemos frente a frente. E em praticamente todas as vezes eu senti sua energia negativa e sua hostilidade para comigo.

Ouvi buzina de moto e o Ralph e a Mia, nossos cães latindo. Isso era sinal de pizza chegando, pra variar. é praticamente um hábito, especialmente quando a Mell vem de São Paulo. Elas se reuniram na sala para conversar e saborear a pizza. Sabem que normalmente eu não recuso pizza ou esfiha. Mas sempre deixam algumas fatias lá para o caso de eu sentir vontade mais tarde. Saí do quarto principal e fui pro quarto de minha filha mais nova, onde podia ficar no escuro, janela aberta e sob o som do ventilador. Pouco depois ela entrou e começou a me contar as novidades do dia. Para meu espanto, fui informado que o sepultamento do avô já havia ocorrido. Ora vejam só, se eu mal sabia oficialmente que o homem havia de fato morrido, agora ficava sabendo que inclusive já estava enterradinho da silva. Bom, para mim não fazia a menor diferença. Mas de repente me veio uma estranha sensação. Não sei explicar, um aperto no peito, como se houvesse perdido alguém.

E aí apareceu na porta do quarto a filha dele, ou seja, a mãe dos meus filhos. E me olhando, perguntou se eu não ia lhe dizer nada. Obviamente desejava um abraço ou palavras de condolências. Mas eu lhe disse que essa era uma situação muito confusa e que eu não sabia como agir. Hipócrita não seria de dizer "sinto muito" ou abraçá-la em sinal de pesar. Isso estava fora de cogitação, não seria nem um pouco original. Ela ficou quieta. Na verdade, nem ela e nem ninguém tem o direito de me cobrar nada neste sentido.

O resto do tempo foi normal, bate papo entre eu e minha filhas. Minha caçula vendo vídeos engraçados e morrendo de rir. Lá quarto principal, minha filha mais velha notou um monte de roupas que precisavam ser arrumadas. Fui lá e fizemos isso juntos enquanto batíamos papo descontraidamente. E depois ela ainda foi ensinar a mim e à irmã mais nova coisas sobre moda. Rimos a valer e nos divertimos bastante. Depois vim aqui para o computador a fim de terminar uns trabalhos e finalizar este memorando, como de fato estou fazendo agora. Neste momento são 02 horas e 27 minutos da madrugada de um novo dia, quarta-feira. Um novo dia que representa uma nova fase na vida de cada. Perdas são superadas, umas mais dolorosamente que outras. Algumas nem precisam de superação.

Eu sou Nyll Mergello

1º de março de 2023, 02:33 AM | HB

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